Carregando...

Cometa interestelar 3I/ATLAS exibe “cabeleira” de CO₂ de 350 mil km

Postado 5 out by Claudia França 1 Comentários

Cometa interestelar 3I/ATLAS exibe “cabeleira” de CO₂ de 350 mil km

Quando 3I/ATLASSistema Solar foi identificado em , a comunidade astronômica já sabia que seria especial – era apenas o terceiro visitante interestelar a cruzar nossa vizinhança cósmica. Mas a descoberta mais recente, feita pela missão SPHEREx da NASA, virou o jogo: uma “cabeleira” de dióxido de carbono (CO₂) se estende por quase 350 mil quilômetros ao redor do cometa interestelar. O achado, baseado em observações entre 8 e 12 de agosto de 2025, quando o objeto estava a cerca de 470 milhões de quilômetros do Sol, já está sendo chamado de "revolucionário" por quem está na frente da pesquisa.

O que é o 3I/ATLAS?

O nome oficial do visitante, 3I/ATLAS, segue a convenção de catalogar objetos interestelares (o "3I" indica o terceiro descoberto). Seu trajeto hiperbólico indica origem externa ao nosso Sistema Solar, possivelmente vindo do “disco espesso” da Via Láctea. Os primeiros espectros mostraram que o núcleo era composto principalmente por gelo de água, mas a composição da coma – a névoa que envolve o núcleo – ainda era um mistério.

Descoberta da “cabeleira” de CO₂ pelo SPHEREx

A missão SPHEREx, lançada em março de 2025, opera como um espectrofotômetro de infravermelho, semelhante ao famoso James Webb Space Telescope. Entre 8 e 12 de agosto, o telescópio capturou a assinatura espectral da coma de 3I/ATLAS, revelando uma abundância inusitada de CO₂ que forma uma nuvem estendida por 350.000 km – quase 1% da distância entre a Terra e a Lua. Curiosamente, o monóxido de carbono (CO) quase não foi detectado.

"A presença de um such a massive CO₂ tail é algo que nunca vimos em cometas do nosso próprio sistema", explicou Carey Lisse, astrônomo da Universidade Johns Hopkins. "Isso sugere que o ambiente onde o cometa se formou era muito frio, permitindo que o CO₂ se congelasse em grande quantidade.", acrescentou.

Análises e comentários dos cientistas

Além de Lisse, o presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), Marcelo Zurita, destacou que, entre os três tipos de gelo mais comuns (água, CO₂ e CO), o cometa se diferencia apenas pela concentração de CO₂. "Os outros cometas que estudamos no Sistema Solar têm muito mais CO que CO₂. Este cometa deixa claro que nossos modelos de formação precisam ser revisados", disse Zurita.

Os resultados preliminares foram publicados no arXiv (versão 1), com um artigo completo programado para a revista Nature Astronomy ainda este ano. Até o momento, mais de 30 equipes ao redor do globo – de observatórios no Chile a antenas de rádio nos EUA – estão recebendo os dados para validar a extensão da cauda.

Implicações para a compreensão dos cometas interestelares

Implicações para a compreensão dos cometas interestelares

Se a idade do 3I/ATLAS for realmente duas vezes maior que a do nosso Sistema Solar, como sugerem modelos baseados na proporção de CO₂, estaríamos olhando para um objeto formado há cerca de 9 a 10 bilhões de anos, quando a Via Láctea ainda era um redemoinho de nuvens de gás e poeira. Essa antiguidade poderia explicar o excesso de CO₂: o ambiente cósmico primitivo era mais rico nesse composto.

Além disso, a descoberta fornece uma nova ferramenta para rastrear a origem de objetos interestelares. "Uma cauda de CO₂ tão longa funciona como uma assinatura química. Se encontrarmos outro cometa com esse mesmo padrão, poderemos inferir que ele veio da mesma região da galáxia", apontou Lisse.

  • Cometa: 3I/ATLAS (descoberto 01/07/2025)
  • Missão responsável: SPHEREx (NASA)
  • Comprimento da cauda de CO₂: ~350.000 km
  • Distância ao Sol durante observação: ~470 milhões de km
  • Idade estimada: até 10 bilhões de anos

Próximos passos e pesquisas futuras

O próximo grande objetivo é medir a taxa de liberação de gases (ou "outgassing") do cometa à medida que ele se aproxima do periélio. Telescópios terrestres, como o VLT, já agendaram sessões de espectroscopia em outubro de 2025. Simultaneamente, a NASA está planejando uma campanha de observação coordenada com o James Webb Space Telescope para mapear a distribuição de gelo em alta resolução.

Outra frente de estudo envolve simulações computacionais que reproduzem as condições do disco galáctico antigo. Os resultados podem confirmar se o excesso de CO₂ está ligado a um ambiente mais frio ou a processos de formação diferentes dos cometas locais.

Enquanto isso, a comunidade de amadores — entre eles grupos de observação de meteoro na região Nordeste brasileiro — também está contribuindo com monitoramento visual, reforçando a ideia de que a ciência de cometas agora é um esforço global de profissionais e entusiastas.

Perguntas Frequentes

Como a cauda de CO₂ afeta a interpretação da origem do cometa?

A presença de uma cauda tão extensa indica que o cometa se formou em uma região da galáxia muito fria, onde o CO₂ podia congelar em grande quantidade. Isso sugere uma origem no disco espesso da Via Láctea, possivelmente mais antigo que o nosso Sistema Solar.

Quais instituições estão analisando os dados do SPHEREx?

Além da NASA, equipes da Universidade Johns Hopkins, da Associação Paraibana de Astronomia e de observatórios internacionais no Chile, EUA e Europa estão trabalhando nos espectros.

Qual a diferença entre a composição do 3I/ATLAS e os cometas do nosso Sistema Solar?

Enquanto a maioria dos cometas locais tem abundâncias maiores de monóxido de carbono (CO) que de CO₂, o 3I/ATLAS apresenta quase ausência de CO e uma cauda de CO₂ que supera em ordem de grandeza a de outros gases, indicando condições de formação diferentes.

Quando podemos esperar novos resultados sobre o cometa?

Observações adicionais estão programadas para outubro de 2025 com o VLT, seguidas de imagens de alta resolução pelo James Webb no primeiro semestre de 2026. O artigo completo deverá ser publicado até o final de 2025.

O que a descoberta significa para a busca de vida extraterrestre?

Embora o 3I/ATLAS não contenha água líquida, entender sua composição química ajuda a mapear a distribuição de moléculas orgânicas na galáxia, oferecendo pistas sobre onde ambientes favoráveis à vida podem existir.

Comentários(1)
  • Arlindo Gouveia

    Arlindo Gouveia

    outubro 5, 2025 at 05:45

    O estudo do 3I/ATLAS traz à tona questões fundamentais sobre a formação dos corpos menores do nosso universo. A extensão da cauda de CO₂, quase 350 mil quilômetros, indica que o cometa se originou em uma região extremamente fria, possivelmente no disco espesso da Via Láctea. Essa descoberta obriga a revisarmos os modelos de condensação de gelo que usamos para cometas locais. Além disso, a quase total ausência de CO sugere que as condições de pressão e temperatura eram diferentes das encontradas no nosso próprio Sistema Solar. Os dados do SPHEREx, ao revelar a abundância de CO₂, permitem calibrar simulações de discos galácticos antigos. É importante que equipes de diferentes países colaborem para validar esses achados, compartilhando espectros e modelos computacionais. A comunidade astronômica deve, portanto, considerar a possibilidade de que existam mais objetos interestelares com composições semelhantes. Por fim, a observação contínua do cometa, enquanto ele se aproxima do periélio, nos ajudará a entender a dinâmica de liberação de gases em ambientes tão distantes.

Escreva um comentário