Quando 3I/ATLASSistema Solar foi identificado em , a comunidade astronômica já sabia que seria especial – era apenas o terceiro visitante interestelar a cruzar nossa vizinhança cósmica. Mas a descoberta mais recente, feita pela missão SPHEREx da NASA, virou o jogo: uma “cabeleira” de dióxido de carbono (CO₂) se estende por quase 350 mil quilômetros ao redor do cometa interestelar. O achado, baseado em observações entre 8 e 12 de agosto de 2025, quando o objeto estava a cerca de 470 milhões de quilômetros do Sol, já está sendo chamado de "revolucionário" por quem está na frente da pesquisa.
O nome oficial do visitante, 3I/ATLAS, segue a convenção de catalogar objetos interestelares (o "3I" indica o terceiro descoberto). Seu trajeto hiperbólico indica origem externa ao nosso Sistema Solar, possivelmente vindo do “disco espesso” da Via Láctea. Os primeiros espectros mostraram que o núcleo era composto principalmente por gelo de água, mas a composição da coma – a névoa que envolve o núcleo – ainda era um mistério.
A missão SPHEREx, lançada em março de 2025, opera como um espectrofotômetro de infravermelho, semelhante ao famoso James Webb Space Telescope. Entre 8 e 12 de agosto, o telescópio capturou a assinatura espectral da coma de 3I/ATLAS, revelando uma abundância inusitada de CO₂ que forma uma nuvem estendida por 350.000 km – quase 1% da distância entre a Terra e a Lua. Curiosamente, o monóxido de carbono (CO) quase não foi detectado.
"A presença de um such a massive CO₂ tail é algo que nunca vimos em cometas do nosso próprio sistema", explicou Carey Lisse, astrônomo da Universidade Johns Hopkins. "Isso sugere que o ambiente onde o cometa se formou era muito frio, permitindo que o CO₂ se congelasse em grande quantidade.", acrescentou.
Além de Lisse, o presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), Marcelo Zurita, destacou que, entre os três tipos de gelo mais comuns (água, CO₂ e CO), o cometa se diferencia apenas pela concentração de CO₂. "Os outros cometas que estudamos no Sistema Solar têm muito mais CO que CO₂. Este cometa deixa claro que nossos modelos de formação precisam ser revisados", disse Zurita.
Os resultados preliminares foram publicados no arXiv (versão 1), com um artigo completo programado para a revista Nature Astronomy ainda este ano. Até o momento, mais de 30 equipes ao redor do globo – de observatórios no Chile a antenas de rádio nos EUA – estão recebendo os dados para validar a extensão da cauda.
Se a idade do 3I/ATLAS for realmente duas vezes maior que a do nosso Sistema Solar, como sugerem modelos baseados na proporção de CO₂, estaríamos olhando para um objeto formado há cerca de 9 a 10 bilhões de anos, quando a Via Láctea ainda era um redemoinho de nuvens de gás e poeira. Essa antiguidade poderia explicar o excesso de CO₂: o ambiente cósmico primitivo era mais rico nesse composto.
Além disso, a descoberta fornece uma nova ferramenta para rastrear a origem de objetos interestelares. "Uma cauda de CO₂ tão longa funciona como uma assinatura química. Se encontrarmos outro cometa com esse mesmo padrão, poderemos inferir que ele veio da mesma região da galáxia", apontou Lisse.
O próximo grande objetivo é medir a taxa de liberação de gases (ou "outgassing") do cometa à medida que ele se aproxima do periélio. Telescópios terrestres, como o VLT, já agendaram sessões de espectroscopia em outubro de 2025. Simultaneamente, a NASA está planejando uma campanha de observação coordenada com o James Webb Space Telescope para mapear a distribuição de gelo em alta resolução.
Outra frente de estudo envolve simulações computacionais que reproduzem as condições do disco galáctico antigo. Os resultados podem confirmar se o excesso de CO₂ está ligado a um ambiente mais frio ou a processos de formação diferentes dos cometas locais.
Enquanto isso, a comunidade de amadores — entre eles grupos de observação de meteoro na região Nordeste brasileiro — também está contribuindo com monitoramento visual, reforçando a ideia de que a ciência de cometas agora é um esforço global de profissionais e entusiastas.
A presença de uma cauda tão extensa indica que o cometa se formou em uma região da galáxia muito fria, onde o CO₂ podia congelar em grande quantidade. Isso sugere uma origem no disco espesso da Via Láctea, possivelmente mais antigo que o nosso Sistema Solar.
Além da NASA, equipes da Universidade Johns Hopkins, da Associação Paraibana de Astronomia e de observatórios internacionais no Chile, EUA e Europa estão trabalhando nos espectros.
Enquanto a maioria dos cometas locais tem abundâncias maiores de monóxido de carbono (CO) que de CO₂, o 3I/ATLAS apresenta quase ausência de CO e uma cauda de CO₂ que supera em ordem de grandeza a de outros gases, indicando condições de formação diferentes.
Observações adicionais estão programadas para outubro de 2025 com o VLT, seguidas de imagens de alta resolução pelo James Webb no primeiro semestre de 2026. O artigo completo deverá ser publicado até o final de 2025.
Embora o 3I/ATLAS não contenha água líquida, entender sua composição química ajuda a mapear a distribuição de moléculas orgânicas na galáxia, oferecendo pistas sobre onde ambientes favoráveis à vida podem existir.
Arlindo Gouveia
O estudo do 3I/ATLAS traz à tona questões fundamentais sobre a formação dos corpos menores do nosso universo. A extensão da cauda de CO₂, quase 350 mil quilômetros, indica que o cometa se originou em uma região extremamente fria, possivelmente no disco espesso da Via Láctea. Essa descoberta obriga a revisarmos os modelos de condensação de gelo que usamos para cometas locais. Além disso, a quase total ausência de CO sugere que as condições de pressão e temperatura eram diferentes das encontradas no nosso próprio Sistema Solar. Os dados do SPHEREx, ao revelar a abundância de CO₂, permitem calibrar simulações de discos galácticos antigos. É importante que equipes de diferentes países colaborem para validar esses achados, compartilhando espectros e modelos computacionais. A comunidade astronômica deve, portanto, considerar a possibilidade de que existam mais objetos interestelares com composições semelhantes. Por fim, a observação contínua do cometa, enquanto ele se aproxima do periélio, nos ajudará a entender a dinâmica de liberação de gases em ambientes tão distantes.
Marcelo Mares
Exatamente! Essa “cabeleira” de CO₂ é como um farol cósmico que nos guia direto para os segredos do disco primordial. Cada espectro que o SPHEREx coleta é uma peça do quebra‑cabeça galáctico, e estamos apenas começando a montar a imagem completa. Quando o 3I/ATLAS se aproximar do Sol, vamos ver um verdadeiro show de outgassing, o que pode validar nossas previsões teóricas. Enquanto isso, os observatórios terrestres já estão programados para medir a taxa de liberação de gases, e isso vai nos dar números concretos para comparar com as simulações. É um momento empolgante para a astrofísica, porque nunca antes tínhamos um objeto tão antigo e tão rico em CO₂ para estudar de perto. Vamos acompanhar cada nova publicação com entusiasmo, porque os resultados podem mudar a forma como entendemos a formação de planetas e cometas.
Leonardo Santos
Mas vocês não repararam que toda essa empolgação pode ser uma cortina de fumaça? A NASA tem interesses ocultos em divulgar descobertas que justifiquem mais financiamento para missões caras. Quando eles falam em “cauda de CO₂ como assinatura química”, pode ser só mais um jeito de vender ciência premium. E se o cometa realmente vier de um “disco espesso” antigo, quem garante que não estamos sendo manipulados por algum grupo que quer controlar a narrativa galáctica? Ainda bem que pesquisadores independentes estão analisando os dados, mas a verdade costuma ficar escondida nas entrelinhas das publicações impressas.
luciano trapanese
Calma lá, Leonardo. As missões como o SPHEREx passam por revisões rigorosas de pares antes de publicar qualquer coisa, justamente para evitar esse tipo de viés. É verdade que a ciência precisa de recursos, mas os dados brutos estão disponíveis para a comunidade global, e muitos grupos já estão fazendo suas próprias análises independentes. Se houver algo suspeito, você verá divergências nos resultados nos próximos meses. Enquanto isso, vale focar nos fatos: a cauda de CO₂ realmente se estende por centenas de milhares de quilômetros, algo que nenhum cometa conhecido apresenta. Isso nos dá uma oportunidade única de aprender sobre as condições do universo primitivo, sem precisar entrar em teorias conspiratórias.
Willian Binder
Essa cauda de CO₂ é simplesmente épica.