A cidade de Rio Claro, no interior de São Paulo, tornou-se oficialmente a primeira cidade brasileira a receber o título de Cidade Americana do Esporte — uma honraria concedida pela ACES Europe e endossada pelo Parlamento Europeu e pela UNESCO. A cerimônia aconteceu em Bruxelas, na Bélgica, na quinta-feira, 11 de novembro de 2025. O prefeito Gustavo Perissinotto, acompanhado pelo secretário municipal de Esportes, Erlon Mastricico Thiele, recebeu o prêmio em nome da cidade, diante de representantes de 28 países europeus e autoridades da Comissão Europeia.
Um título que não veio por acaso
Não foi um sorteio, nem um favor diplomático. Foi o resultado de mais de um ano de inspeções rigorosas. Entre outubro de 2024 e outubro de 2025, equipes da ACES Europe visitaram 12 distritos administrativos de Rio Claro, avaliando desde a condição das quadras de vôlei até a estrutura de acesso para pessoas com deficiência nos centros esportivos. Eles entrevistaram atletas amadores, treinadores voluntários, pais de crianças em programas municipais — e até mesmo os garotos que jogam futebol de rua no Parque da Cidade.
A cidade atende hoje cerca de 45 mil participantes registrados em 28 modalidades esportivas — do atletismo ao vôlei de praia, da natação à capoeira. Mas o que impressionou os avaliadores não foi só a quantidade, e sim a qualidade da inclusão. Em bairros periféricos como Jardim das Palmeiras e Vila Nova, os programas esportivos são gratuitos, com transporte escolar e alimentação incluída. Não há filas de espera. Não há burocracia. É acesso direto.
“O esporte levou nosso nome ao Brasil — e agora, ao Parlamento Europeu”
Na cerimônia, Gustavo Perissinotto falou com a voz de quem sabe o peso da história. “O esporte, que levou o nome de Rio Claro a ser conhecido em todo o nosso país, hoje atravessa o oceano para receber esta honrosa homenagem aqui no Parlamento Europeu”, disse ele, em português, antes de traduzir para o francês e inglês. O prefeito lembrou que, desde os anos 1980, Rio Claro já produzia campeões nacionais — e que, nos últimos anos, investiu R$ 18 milhões em reformas e novas estruturas, sem jamais pedir empréstimos externos.
Thiele, por sua vez, destacou o impacto prático: “Essa certificação abre portas. Já temos propostas de parceria com cidades canadenses e norte-americanas para intercâmbio de técnicos e atletas. E a possibilidade de sediar eventos da Confederação Pan-Americana de Esportes não é mais um sonho — é uma agenda.”
Um modelo que desafia o Brasil
Rio Claro é a terceira cidade das Américas a receber o título — depois de uma em Toronto e outra em Portland. Mas o que a diferencia é o modelo de gestão. Enquanto outras cidades brasileiras dependem de projetos temporários ou de verbas federais voláteis, Rio Claro criou, em 2023, um Fundo Municipal de Esportes, com 2% da receita líquida da cidade destinada exclusivamente ao setor — e com conselho de cidadãos para fiscalizar os gastos.
Isso explica por que, mesmo em meio à crise econômica nacional, os programas não foram cortados. Pelo contrário: aumentaram. Em 2024, 12 mil crianças e adolescentes participaram de atividades esportivas escolares. Em 2025, esse número subiu para 18 mil. E a taxa de evasão escolar entre os participantes caiu 34% em dois anos.
“O esporte aqui não é um lazer. É uma política de Estado”, diz o sociólogo Lucas Mendes, da Universidade de São Paulo, que acompanha o caso desde 2022. “Eles transformaram quadras em salas de aula de cidadania. Não há outra cidade no Brasil com esse nível de integração entre esporte, educação e saúde pública.”
O que vem a seguir?
Com o título em mãos, Rio Claro já planeja ações concretas. Em dezembro, será assinado um memorando com a ACES Europe para a criação de uma rede de cidades latino-americanas de esporte inclusivo. Em janeiro, começa o programa “Esporte nas Escolas Rurais”, que levará equipamentos e treinadores a 18 municípios vizinhos. E, em março, a cidade sediará o primeiro Fórum das Américas sobre Esporte e Inclusão, com representantes de 15 países.
A prefeitura também anunciou que vai candidatar Rio Claro à sede dos Jogos Regionais da América do Sul em 2029 — algo que, até então, era impensável para uma cidade de 210 mil habitantes. Mas agora? “Temos o selo. Agora, é mostrar que podemos fazer mais do que o esperado”, afirma Thiele.
Por que isso importa para o Brasil?
Rio Claro não é São Paulo. Não é Rio. Não é Curitiba. É uma cidade média, com pouca mídia, mas muita vontade. E ela provou que, com gestão transparente, planejamento de longo prazo e foco na inclusão, é possível criar um modelo de esporte público que inspira o mundo.
Enquanto o Brasil perde tempo discutindo orçamentos e escândalos, Rio Claro está construindo algo duradouro: uma cultura onde o esporte não é privilégio de poucos, mas direito de todos — e onde um menino de bairro simples pode, um dia, ser campeão nacional. Ou até representar o país no exterior. Porque, agora, o mundo está olhando.
Frequently Asked Questions
Como Rio Claro conseguiu se destacar entre outras cidades brasileiras?
Rio Claro se destacou por ter um fundo municipal permanente para esportes, com 2% da receita líquida garantido anualmente, além de conselho cidadão para fiscalização. A cidade também eliminou barreiras de acesso — oferecendo transporte, alimentação e equipamentos gratuitos — e atingiu 45 mil participantes em 28 modalidades, com dados comprovados por inspeções da ACES Europe.
Quem mais já recebeu o título de Cidade Americana do Esporte?
Antes de Rio Claro, apenas duas cidades nas Américas receberam o título: Portland, nos Estados Unidos, e Toronto, no Canadá. Rio Claro é a primeira no Brasil e a terceira no continente. A distinção é rara: apenas 12 cidades no mundo têm esse reconhecimento, todas na Europa ou nas Américas.
Quais benefícios práticos Rio Claro terá com esse título?
O título abre portas para financiamento internacional, intercâmbios com cidades europeias e norte-americanas, e a possibilidade de sediar eventos continentais. Já há propostas concretas de parcerias com universidades da França e da Alemanha, e a cidade deve candidatar-se à sede dos Jogos Regionais da América do Sul em 2029.
O que a ACES Europe avaliou exatamente?
A entidade analisou quatro pilares: infraestrutura (estado das instalações), governança (transparência nos gastos), inclusão social (acesso para todos os grupos, incluindo pessoas com deficiência e comunidades rurais) e impacto educacional. A avaliação incluiu visitas técnicas, entrevistas com 120 cidadãos e análise de dados de 2023 a 2025.
O título é permanente ou precisa ser renovado?
O título é concedido por cinco anos, mas exige relatórios anuais de desempenho. Se Rio Claro não manter os padrões de inclusão e investimento, pode perder o reconhecimento. Por isso, a prefeitura já criou um sistema de monitoramento em tempo real, com indicadores públicos acessíveis online.
Por que a UNESCO endossou essa homenagem?
A UNESCO vê em Rio Claro um modelo de como o esporte pode ser usado como ferramenta de paz, educação e igualdade — especialmente em contextos de desigualdade social. O programa da cidade alinha-se diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente os números 3 (saúde), 4 (educação) e 10 (redução de desigualdades).